Os Pretos e Pretas Velhas, na Umbanda, são entidades de elevada evolução espiritual que representam o estereótipo dos anciãos negros conhecedores profundos da magia Divina, da manipulação de ervas. São excelentes mandingueiros, mestres no manuseamento dos elementos da natureza, os quais utilizam nos seus benzimentos e trabalhos espirituais.
Em reverência à dor e aflição sofrida pelo povo negro durante a escravidão, a linha de Preto Velho reflecte a humildade, a sabedoria, a paciência e a perseverança. Não necessariamente todos foram escravos. A sua sabedoria e humildade são características marcantes, a sua calma e os seus ensinamentos são profundos. Apresentam-se na Umbanda sentados em seus banquinhos ou sentados no chão atendendo seus “fios e fias” com uma linguagem simples porém sábia. A característica principal desta linha é a sua elevada orientação espiritual.
Àqueles que os procuram oferecem conselhos, orientação espiritual; receitam tratamentos caseiros, banhos de ervas, chás, entre outros, para os males do corpo e do espirito
Utilizam vários elementos nos seus trabalhos como o cachimbo, cigarros de palha (que usam como defumadores, para limpeza espiritual) e ervas.
A Linha de Pretos Velhos na Umbanda é regida pelo mistério Ancião, na força do Orixá Obaluaê que é o Orixá sustentador da evolução, da transmutação e transformação dos seres. Mas os Pretos Velhos também se apresentam dentro da linha de outros Orixás.
O “Preto-velho” está ligado à cultura religiosa Afro Brasileira em geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião Umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de sua liturgia, representa uma “linha de trabalho”, uma “falange de espíritos”, todo um grupo de mentores espirituais que se apresentam como negros anciões, conhecedores dos Orixás Africanos.
São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, são simplesmente, pretos e pretas velhas. Alguns preferem ser chamados apenas de “Pais Velhos” o que é bonito ao ressaltar a paternidade. São eles que souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se auto afirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos de que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa a situação, maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.
O “preto-velho” é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição, assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no astral.
São espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o “mistério ancião”, mas não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda da evolução.
Quanto menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e “preto-velho” fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouvi-lo.
Nas culturas antigas o “velho” era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto a nossa memória ou a nossa história pode ir buscar tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos já estão fora do ciclo reencarnatório, estão libertos do carma, já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho evolutivo.
Eles representam a humildade, a força de vontade, a resignação, a sabedoria, o amor e a caridade. São uma referência para todos os necessitados: curam, ensinam, educam pessoas e espíritos sem luz. Não têm raiva ou ódio pelas humilhações, atrocidades e torturas a que foram submetidos no passado.
Com os seus cachimbos, falam pausadamente, trazem tranquilidade nos gestos, escutam e ajudam todos os que vêm ao seu encontro, independentes de sua cor, idade, sexo ou religião. São extremamente pacientes com os seus filhos e, como poucos, sabem incutir-lhes os conceitos de carma e ensinando-lhes a resignação.
Por isso, quando nos dirigimos a eles deveremos ter humildade e saber escutar, não querendo milagres ou que ele resolva os nossos problemas, como um passe de mágica, entendamos que qualquer solução tem o princípio dentro de nós mesmos. Para muitos os Pretos-Velhos são conselheiros mostrando a vida e seus caminhos; para outros, são psicólogos, amigos, confidentes, mentores espirituais; para outros, são os exorcistas que lutam com suas mirongas, banhos de ervas, pontos de fogo, pontos riscados, etc.
A incorporação na linha de Pretos Velhos é mais calma, dependendo das entidades, não dançam muito.O médium quando “incorpora’ e sente a vibração dessa linha tem um “peso” nas costas, ao qual se inclina na parte da frente. Os Pretos e Pretas Velhas quando incorporados em seus médiuns não se movimentam muito e quando o fazem é para saudar o atabaque, saudar o Congá, dançar, etc…)
Com certeza encontramos alguns que ficam de pé e que gostam de dançar, sendo o seu dançar muito subtil, isto depende muito da vibração do médium e a necessidade de cada entidade. Geralmente os Pretos Velhos ficam sentados fazendo a caridade e trazendo muita paz e alegria as pessoas do terreiro, geralmente usam palavras simples e sem palavrasrebuscadas
A linha é um todo, com suas características gerais, ditas acima, mas diferenças ocorrem porque os Pretos-Velhos são trabalhadores de orixás e trazem para sua forma de trabalho a essência da irradiação do Orixá para quem eles trabalham.Essas diferenças são evidenciadas na incorporação e também na maneira de trabalhar e especialidade deles. Para exemplificar, separaremos abaixo por Orixás:
Pretos-Velhos De Ogum: São mais rápidos na sua forma incorporativa.São diretos na sua maneira de falar, apreciando o efeito “choque”nas suas mensagens,sendo no fundo extremamente bondosos.São especialistas em consultas encorajadoras, ou seja, encorajando e dando segurança para aqueles indecisos e “medrosos”. É fácil pensar nessa característica pois Ogum é um Orixá considerado corajoso.
Pretos-Velhos De Oxum: São mais lentos na forma de incorporar e até falar. Passam para o médium uma serenidade inconfundível.Não são tão diretos ao falar, enfeitam o máximo a conversa para que uma verdade dolorosa possa ser escutada de forma mais amena, pois a finalidade não é “chocar” e sim, fazer com que a pessoa reflita sobre o assunto que está sendo falado.São especialistas em reflexão, nunca se sai de uma consulta de um Preto-Velho de Oxum sem um minuto que seja de pensamento interior. As vezes é comum sair até mais confuso do que quando entrou, mas é necessário para a evolução daquela pessoa.
Pretos-Velhos De Xangô: Sua incorporação é rápida como as de Ogum.Assim como os caboclos de Xangô, trabalham para causas de prosperidade sólida, bens como casa própria, processo na justiça e realizações profissionais.Passam seriedade em cada palavra dita, sendo exigentes com os seus médiuns e consulentes.
Pretos-Velhos De Yansã: São rápidos na sua forma de incorporar e falar. Assim como os de Ogum, não possuem também muita paciência para com as pessoas.Essa rapidez é facilmente entendida, pela força da natureza que os rege, e é essa mesma força lhes permite uma grande variedade de assuntos com os quais ele trata, devido a diversidade que existe dentro desse único Orixá.Geralmente suas consultas são de impacto, trazendo mudança rápida de pensamento para a pessoa. São especialistas também em ensinar diretrizes para alcançar objetivos, seja pessoal, profissional ou até espiritual.Entretanto, é bom lembrar que sua maior função é o descarrego. É limpar o ambiente, o consulente e demais médiuns do terreiro, de eguns ou espíritos de parentes e amigos que já se foram, e que ainda não se conformaram com a partida permanecendo muito próximos dessas pessoas.
Pretos-Velhos De Oxossi: São os mais brincalhões, suas incorporações são alegres e um pouco rápidas.Esses Pretos-Velhos geralmente falam com várias pessoas ao mesmo tempo.Possuem uma especialidade: A de receitar remédios naturais, para o corpo e a alma, assim como emplastros, banhos e compressas, defumadores, chás, etc… São verdadeiros químicos em seus tocos. – Afinal não podiam ser diferentes, pois são alunos do maior “químico” – Oxossi.
Pretos-Velhos De Nanã: São raros, sua maneira de incorporação é de forma mais envelhecida ainda. Lenta e muito pesada. Enfatizando ainda mais a idade avançada.Falam com rigidez e seriedade profunda. Não brincam nas suas consultas e prezam sempre o respeito, tanto do médium quanto do consulente. Seu julgamento é severo. Não admitem injustiças.Prezam a gratidão, de uma forma geral. Podem optar por ficar numa casa, se seu médium quiser sair, se julgar que a casa é boa, digna e honrada.É difícil a relação com esses guias, principalmente quanto há discordância, ou seja, não são muito abertos a negociação no momento da consulta.
São especialistas em conselhos que formem moral, e entendimento do nosso karma, pois isso sem dúvida é a sua função.Atuam também como os deYansã e Obaluaiê, conduzindo Eguns.
Pretos-Velhos De Obaluaiê: São simples em sua forma de incorporar e falar. Exigem muito de seus médiuns, tanto na postura quanto na moral.Defendem quem é certo ou quem está certo, independente de quem seja, mesmo que para isso ganhem a antipatia dos outros.
Agarram-se a seus “filhos” com total dedicação e carinho, não deixando no entanto de cobrar e corrigir também. Pois entendem que a correção é uma forma de amar.Devido a elevação e a antiguidade do Orixá para o qual eles trabalham, acabam transformando suas consultas em conselhos totalmente diferenciados dos demais Pretos-Velhos. Ou seja, se adaptam a qualquer assunto e falam deles exatamente com a precisão do momento.Como trabalha para Obaluaiê, e este é o “dono das almas”, esses Pretos-Velhos são geralmente chefes de linha e assim explica-se a facilidade para trabalhar para vários assuntos.Sua “visão” é de longo alcance para diversos assuntos, tornando-os capazes de traçar projetos distantes e longos para seus consulentes. Tanto pessoal como profissional e até espiritual.Assim exigem também fiel cumprimento de suas normas, para que seus projetos não saiam errado, para tanto, os filhos que os seguem, devem fazer passo a passo tudo que lhes for pedido, apenas confiando nesses Pretos-Velhos.Gostam de contar histórias para enriquecer de conhecimento o médium e as pessoas a volta.
Pretos-Velhos De Yemanjá: São belos em suas incorporações, contudo mantendo uma enorme simplicidade. Sua fala é doce e meiga.Sua especialidade maior é sem dúvida os conselhos sobre laços espirituais e familiares.Gostam também de trabalhar para fertilidade de um modo geral, e especialmente para as mulheres que desejam engravidar.Utilizando o movimento das ondas do mar, são excelentes para descarregos e passes.
Pretos-Velhos De Oxalá: São bastante lentos na forma de incorporar, tornam-se belos principalmente pela simplicidade contida em seus gestos.Raramente dão consulta, sua maior especialidade é dirigir e instruir os demais Pretos-Velhos.Cobram bastante de seus médiuns, principalmente no que diz respeito a prática de caridade, bom corpontamento moral dentro e fora do terreiro, ausência de vícios, humildade; enfim o cultivo das virtudes mais elevadas.
Os Pretos-velhos são nossos Guias ou Protetores, mas no Candomblé, são considerados Eguns (almas desencarnadas), e decorrente disso, só têm fio de conta (Guia) na Umbanda. Usam branco ou preto e branco. Essas cores são usadas porque, sendo os Pretos-Velhos almas de escravos, lembram que eles só podiam andar de branco ou xadrez preto e branco, em sua maioria. Temos também a Guia de lágrima de Nossa Senhora, semente cinza com uma palha dentro. Essa Guia vem dos tempos dos cativeiros, porque era o material mais fácil de se encontrar na época dos escravos, cuja planta era encontrada em quase todos os lugares. Muitos dos Pretos-Velhos Gostam de Guias com Contas de Rosário de Nossa Senhora, alguns misturam favas e colocam Cruzes ou Figas feitas de Guiné ou Arruda.
Dia da semana: Segunda-feira
Chakra atuante: básico ou sacro
Planeta regente: Saturno
Cor representativa: preto e branco;
Saudação: Cacurucaia (Deve sempre ser respondida com “Adorei as Almas”)
Fumo: cachimbos ou cigarros de palha.
Bebida: Café preto, vinho tinto, vinho moscatel, cachaça com mel (às vezes misturam ervas, sal, alho e outros elementos na bebida).
O dia em que a Umbanda homenageia os Pretos-Velhos é 13 de maio, que é a data em que foi assinada a Lei Áurea (libertação dos escravos).
Axé
Mãe Vanda D’Oyá
Last updated: 2016-07-27