“Yemanjá”
Yemanjá teve muitos problemas com os filhos. Ossain, o mago, saiu de casa muito jovem e foi viver na mata virgem estudando as plantas. Contra os conselhos da mãe, Oxossi bebeu uma poção dada por Ossain e, enfeitiçado, foi viver com ele no mato.
Passado o efeito da poção, ele voltou para casa mas Yemanjá, irritada, expulsou-o. Então ogum a censurou por tratar mal o irmão. Desesperada por estar em conflito com os três filhos.
Yemanjá chorou tanto que se derreteu e formou um rio que correu para o mar.
Yemanjá foi casada com Okere. Como o marido a maltratava, ela resolveu fugir para a casa do pai Olokum.
Okere mandou um exército atrás dela mas, quando estava sendo alcançada, Yemanjá se transformou num rio para correr mais depressa. Mais adiante, Okere a alcançou e pediu que voltasse; como Yemanjá não atendeu, ele se transformou numa montanha, barrando sua passagem.
Então Yemanjá pediu ajuda a Xangô; o orixá do fogo juntou muitas nuvens e, com um raio, provocou uma grande chuva, que encheu o rio, com outro raio partiu a montanha em duas e Yemanjá pôde correr para o mar.
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“Yemanjá ganha o poder de cuidar de todas as cabeças”
Olodumaré fez o mundo e repartiu entre os orisás vários poderes, dando a cada um reino para cuidar.
A Exú deu o poder da comunicação e a posse das encruzilhadas.
A Ogum o poder de forjar os utensílios para agricultura e o domínio de todos os caminhos.
A Oxóssi o poder sobre a caça e a fartura.
A Obaluaiyê o poder de controlar as doenças de pele.
Oxumaré seria o arco-íris, embelezaria a terra e comandaria a chuva, trazendo sorte aos agricultores.
Xangô recebeu o poder da justiça e sobre os trovões.
Oyá reinaria sobre os mortos e teria poder sobre os raios.
Ewá controlaria a subida dos mortos para o orum, bem como reinaria sobre os cemitérios.
Oxum seria a divindade da beleza, da fertilidade das mulheres e de todas as riquezas materiais da terra, bem como teria o poder de reinar sobre os sentimentos de amor e ódio.
Nanã recebeu a dádiva, por sua idade avançada, de ser a pura sabedoria dos mais velhos, além de ser o final de todos os mortais; nas profundezas de sua terra, os corpos dos mortos seriam recebidos.
Além disso do seu reino sairia a lama da qual Oxalá modelaria os mortais, pois Odudua já havia criado o mundo. Todo o processo de criação terminou com o poder de Osoguian que inventou a cultura material.
Para Yemanjá, Olodumare destinou os cuidados da casa de Osalá, assim como a criação dos filhos e de todos os afazeres domésticos.
Yemanjá trabalhava e reclamava de sua condição de menos favorecida, afinal, todos os outros deuses recebiam oferendas e homenagens e ela, vivia como escrava.
Durante muito tempo Yemanjá reclamou dessa condição e tanto falou, nos ouvidos de Osalá, que este enlouqueceu.
O ori (cabeça) de Oxalá não suportou os reclamos de Yemanjá.
Oxalá ficou enfermo, Yemanjá deu-se conta do mal que fizera ao marido e, em poucos dias curou Oxalá.
Oxalá agradecido foi a Olodumare pedir para que deixasse a Iemanjá o poder de cuidar de todas as cabeças. Desde então Iemanjá recebe oferendas e é homenageada quando se faz o bori (ritual propiciatório à cabeça) e demais ritos à cabeça.
Lenda tirada do livro
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
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“Yemanjá e Exú”
Exú, seu filho, se encantou por sua beleza e tomou-a a força, tentando violentá-la.
Uma grande luta se deu, e bravamente Yemanjá resistiu à violência do filho que, na luta, dilacerou os seios da mãe.
Enlouquecido e arrependido pelo que fez, Exú “saiu no mundo” desaparecendo no horizonte. Caída ao chão, Yemanjá entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, pediu socorro ao pai Olokum e ao criador Olorum.
E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, foi saindo dando origem aos mares.
Exú, pela atitude má, foi banido para sempre da mesa dos orixás, tendo como incumbência eterna ser o guardião, não podendo juntar-se aos outros na corte.
Por isso Yemanjá é representada na imagem com grandes seios, simbolizando a maternidade e a fecundidade.